"Com quanto tempo vou resolver minhas questões?"
- Espaço Brechas
- 10 de jul.
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A psicanálise não trabalha com um tempo predeterminado de finalização. Acredita-se no tempo de cada sujeito, o qual influencia como cada um investe e produz no processo. É como se existisse vários tempos na análise: tempo de se adaptar ao processo, de se sentir confortável para falar e lembrar as questões; de, inclusive, aceitar os motivos dos sofrimentos e poder se questionar; desconstruir e reconstruir novas interpretações.

Dessa forma, entende-se que existe um tempo cronológico útil a organização da vida social. Entretanto, a análise trabalha com o tempo lógico do inconsciente. Por exemplo: há situações que vivemos há muito tempo atrás, mas que ressoa em nós até hoje com a sensação de algo realmente atual. A psicanálise justifica isso acreditando que o inconsciente funciona de forma atemporal, Assim, o analista presta atenção no modo como o sujeito descreve situações e de como se coloca frente a elas - que posição ocupa um fato e de como o sujeito o ocupa.
Isso quer dizer que o tempo deixa de ser linear - com uma ideia de evolução como melhora, e passa a ser espiral, onde passado, presente e futuro estão entrelaçados, se relacionando, e o processo de costura de novos modos de vida implica um movimento de vai e volta: avança, retorna, repensa, redireciona… “Recordar, repetir e elaborar”.
Existem momentos em que o tempo cronológico e o lógico entram em conflito justamente por existir uma pressa cronológica em desamarrar os impedimentos, e esticar os sujeitos para que retornem à "lógica" social.
“Há um tempo tão veloz que “atropela” o tempo do sujeito, como se a velocidade imposta pelos acontecimentos externos impedisse o sujeito de vivenciar o que de fato ocorreu.” (SANTOS LARA, A. P, 2018)
Assim, a análise aparece como a construção do próprio tempo - o espaço que permite revisitar e reorientar o tempo no próprio compasso; e um tempo que permite construir um novo espaço para se interpretar e se posicionar na vida - tempo de agir.
Referência: Andrea Paula dos Santos Lara (2018). O tempo para a psicanálise no tempo da atualidade: sobre os desacontecimentos possíveis.


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